Perfil affa: Uma vida em defesa da saúde da população

Conheça Ivone Litwinski Suffert, auditora fiscal federal agropecuária que está presente no VI Conaffa

Foto: Arquivo Pessoal

A aposentadoria da auditora fiscal federal agropecuária Ivone Suffert, conquistada em março deste ano após 33 anos de trabalho, sendo 25 no serviço público e 20 anos atuando no MAPA, não encerra sua luta em defesa da saúde da população. Formada em Medicina Veterinária pela UFRGS em 1987, com especializações em sanidade avícola e sanidade ovina e Mestrado Profissional, Ivone trabalhou grande parte de sua carreira na inspeção de leite, e também de aves e periódicos. Apesar de participar menos do que gostaria, a affa segue ativa na luta sindical, em prol dos auditores que seguem trabalhando e dos inativos, que também correm risco de perder direitos com os projetos do governo federal. Confira a entrevista de Ivone, que representa o Rio Grande do Sul como delegada no VI CONAFFA.

Qual tua visão sobre a importância do trabalho dos auditores fiscais federais agropecuários?

Considero fundamental o trabalho dos affas para a saúde e a segurança alimentar da população. Os auditores fazem o controle para resguardar o país de doenças e pragas exógenas nas áreas vegetal e animal e atuam na inspeção da produção de alimentos. Um caso recente reforça a necessidade desses profissionais em defesa da saúde das pessoas. O Mapa e a Polícia Federal deflagraram uma operação em Minas Gerais (no dia 20 de outubro) contra uma fábrica de laticínios, investigada por comercializar manteiga adulterada com gordura vegetal. A empresa estava coagindo a fiscalização e a população sendo enganada comercial e nutricionalmente. Esse episódio reforça a importância da fiscalização ser bem amparada, ter instrumentos e apoio para trabalhar sem pressão externa.

Como enxerga o futuro da carreira?

Vejo que a carreira vem perdendo força e isso ocorre desde que entrei no ministério, há duas décadas. Não é uma percepção só minha, esse entendimento também é dos colegas. A própria lei de liberdade econômica institui que o empresário goza de presunção de boa intenção nos atos que pratica. Isso enfraquece nossa atuação de fiscalizar em prol da saúde da população. A finalidade da fiscalização é a saúde pública. Não é trabalhar visando a sobrevivência da empresa. Se uma fábrica começa a operar com SIF já é uma empresa sobrevivente, vencedora, ela não precisa da fiscalização para ir adiante. O papel da fiscalização é cuidar da saúde da população.

A PEC 32, entre outras propostas, pode impactar sobre a renda dos aposentados que se aposentaram com benefício vinculado ao valor da ativa. Isso porque haverá possibilidade de extinção de cargos e substituição dos cargos efetivos por formas atípicas de contratação. Como tu enxerga essa possibilidade?

Temos de ficar alertas. Não vejo nenhuma mudança vindo para melhor. Todas as propostas de novas legislações são para tirar melhorias e garantias. Os governos dizem que vai melhorar, e todas as PECs (propostas de emenda constitucional) não trouxeram nenhuma melhoria para a população. A PEC 32, especificamente, terá impactos para todos os auditores e será uma paulada bem no meio da testa dos aposentados. A inflação teve período muito pequeno de estabilidade e a tendência mundial é de redução do poder de compra. Se o salário fica estabilizado e dos aposentados mais parados ainda, a perda com certeza será ainda maior.

Qual a importância da luta sindical?

É fundamental a luta sindical, mas é importante que seja coletiva, que seja de base, de um grupo coeso. O sindicato é um espaço para todos serem ouvidos, não para poucas pessoas. Até porque não existe luta sindical de pessoas que concordam com o patrão. O patrão, em geral, quer explorar a força de trabalho. E não se pode ficar de compadrio, mostrando que concordam com o patrão.

Por quê, mesmo aposentada, segues engajada em defesa da carreira?

Por morar longe da Capital, acho que atuo pouco, só respondo quando sou questionada.  Sei que sou ativa porque estou em uma região importante de produção, em Passo Fundo, no Norte do Estado. Gosto de participar da seção sindical. Mas sempre falo nas reuniões que participo: qualquer assunto que venha a ser discutido no grupo, no momento que todos conversam, o tema se esclarece. Já, quando vem na letra fria do papel, a gente tem dúvida. No momento em que todos falam e são ouvidos, os temas ficam mais claros e de fácil entendimento a todos.

O que tua experiência de 20 anos no Mapa traz para a causa sindical?

O MAPA e o sindicato são fundamentais para a sensação de pertencimento dos affas. Em um estabelecimento, atuam um ou dois affas, ele é MAPA frente a uma empresa. E esses profissionais se sentem meio oprimidos, sozinhos e, para a causa sindical, ele tem de se sentir parte do ministério. Algumas pessoas têm consciência disso, outras podem se sentir esquecidas, abandonadas. O dia a dia leva a isso. Claro que tem e-mails, whats e outras ferramentas de comunicação. Mas é essencial visitar, ter reunião semanal, encontrar pessoas. Principalmente para esse colega que está no interior, muitos passam dois anos sem se encontrar, cinco anos sem ter uma reunião de reciclagem. Por isso, inclusive, nada substitui a reunião presencial. Apesar de os encontros terem diminuído com a pandemia, as reuniões presenciais são fundamentais para que as pessoas interajam e pequenas modificações internas aconteçam no sindicato. Às vezes desentendimentos pequenos, que na verdade eram dúvidas, em uma reunião presencial se esclarecem. É assim que os affas, mesmo os que trabalham sozinhos, terão a certeza de pertencerem a um grupo, a uma carreira, a um sindicato.

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